sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Baobá

Para vocês, um conto de que gosto muito. Eu o li, semana passada, com minhas alunas do curso Pedacinhos da África.
E viva a leitura!
Abraço e até mais.


O coração do baobá

            No coração da África, havia uma extensa planície. E no centro dessa planície, erguia-se uma alta e frondosa árvore. Era o baobá.
            Um dia, embaixo do sol escaldante do meio-dia africano, corria pela planície um coelhinho, que, exausto, suado, quando viu o baobá, correu a abrigar-se à sua sombra. E ali, protegido pela árvore, ele se sentiu tão bem, tão reconfortado, que olhando para cima não pôde deixar de dizer:
            - Que sombra acolhedora e amiga você tem, baobá! Muito obrigado!
 O baobá, que não costumava receber palavras de agradecimento, ficou tão reconhecido, que fez balançar os seus galhos e tremular suas folhinhas, como numa dança de alegria.
O coelho, percebendo a reação da árvore, quis aproveitar-se um pouquinho da situação e disse assim:
- É, realmente sua sombra é muito boa.... Mas e esses seus frutos que eu estou vendo lá em cima? Não me parecem assim grande coisa...
O baobá, picado no seu amor próprio, caiu na armadilha. E soltou, lá de cima de seus galhos, um belo e redondo fruto, que rolou pelo capim, perto do coelhinho. Este, mais do que depressa, farejou o fruto e o devorou, pois ele era delicioso. Saciado, voltou para a sombra da árvore, agradecendo:
- Bem, sua sombra é muito boa, seu fruto também é da melhor qualidade. Mas.... e o seu coração, baobá? Será ele doce como seu fruto ou duro e seco como sua casca?
O baobá, ouvindo aquilo, deixou-se invadir por uma emoção que há muito tempo não sentia. Mostrar o seu coração? Ah... Como ele queria.... Mas era tão difícil.... Por outro lado, o coelhinho havia se mostrado tão terno, tão amigo.... E assim, hesitante, hesitando, o baobá foi lentamente abrindo o seu tronco. Foi abrindo, abrindo, até formar uma fenda, por onde o coelho pôde ver, extasiado, um tesouro de moedas, pedras e jóias preciosas, um tesouro magnífico, que o baobá ofereceu a seu amigo. Maravilhado, o coelho pegou algumas jóias e saiu agradecendo:
- Muito obrigado, bela árvore! Jamais vou te esquecer!
E chegando à sua casa, encontrou sua esposa, a coelha, a quem presenteou com as jóias. A coelha, mais do que depressa, enfeitou-se toda com anéis, colares e braceletes e saiu para se exibir para suas amigas. A primeira que ela encontrou foi a hiena, que, assaltada pela inveja, quis logo saber onde ela havia conseguido jóias tão faiscantes. A coelha lhe disse que nada sabia, mas que fosse falar com seu marido. A hiena não perdeu tempo: foi ter com o coelho, que lhe contou o que havia acontecido.
No dia seguinte, exatamente ao meio-dia, corria a hiena pela planície e repetia passo a passo tudo o que o coelho lhe havia contado. Foi deitar-se à sombra do baobá, elogiou-lhe a sombra, pediu-lhe um fruto, elogiou-lhe o fruto e finalmente pediu para ver-lhe o coração.
O baobá, a quem o coelhinho na véspera havia tornado mais confiante e mais generoso, dessa vez nem hesitou. Foi abrindo o seu tronco, foi abrindo, bem devagarinho, saboreando cada minutinho de entrega. Mas a hiena, impaciente, pulou com suas garras no tronco do baobá, gritando:
- Abra logo esse coração, eu não agüento esperar! Ande! Eu quero todo esse tesouro para mim, eu quero tudo, entendeu?
            O baobá, apavorado, fechou imediatamente o seu tronco, deixando a hiena de fora a uivar desesperada, sem conseguir pegar nenhuma jóia. E por mais que ela arranhasse a árvore, ela nada conseguiu.
            A partir desse dia é que a hiena ganhou o costume de vasculhar as entranhas dos animais mortos, pensando encontrar ali algum tesouro. Mal sabe ela que esse tesouro só existe enquanto o coração é vivo e bate forte.
            Quanto ao baobá, nunca mais ele se abriu. A ferida que ele sofreu é invisível, mas dificilmente curável. O coração dos homens se parece com o do baobá. Por que ele se abre tão medrosamente quando ele se abre?  Por que às vezes ele nem se abre?  De que hiena será que ele se recorda?


Fonte: SISTO, C. Mãe África. São Paulo: Paulus, 2005

domingo, 26 de agosto de 2012

A delícia de se dividir uma boa leitura...

Tão gostoso dividir uma leitura interessante com alguém, né?
Semana passada li dois pequenos trechos do livro Meu avô era uma cerejeira (cuja leitura indico a todos!!!) para uma das minhas turmas lá da escola. E, pensando nessa “divisão da gostosura de ler”, deixo para vocês um poema.
Desfrutem-no e até a próxima!


Livros
(Lalau)

Capivara convidou o jacaré
Para ler Robinson Crusoé.

Sabiá chamou o porco-espinho
Para ler Reinações de Narizinho.

Peixe-boi visitou o aruanã
Para ler Peter Pan.

Tatu-bola procurou  a cascavel
Para ler Rapunzel.

Para ganhar um amigo,
Abra um livro e diga:
Quer ler comigo?











sábado, 18 de agosto de 2012

Lia

Li este poema hoje e o escolhi para a postagem da semana porque minha avó materna se chamava Lia... Que saudade dela...
Que todo mundo leia muito! (Este poema e muitos outros...) J


Lia
Edimilson de Almeida Pereira

Quando descobriu
que Lia
lia,
seu pai lhe deu um livro.

Lia somou ao livro
as coisas que sabia
desde o tempo
em que lia o grande
livro do mundo.

Por isso no seu livro
sentia como eram frias
as escamas dos peixes.

Como eram gordos
os nomes
das pessoas gordas.
E magros,
os das pessoas magras.

No livro de Lia
as palavras
eram as coisas,
as coisas
eram as palavras.

Lia o chamou
de livro das maravilhas.


PEREIRA, E. de A. Rua Luanda. São Paulo: Paulinas, 2007

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Brincadeiras africanas

Oi, gente!
Eu amo comprar livros infantis e – confesso que – os cursos que dou lá na escola são a “desculpa perfeita” para eu ampliar meu acervo.
Semana passada descobri um livro novo (lançado no ano passado, mas que eu ainda não conhecia!) que me deu “coceira”, muita coceira... Felizmente, ontem consegui comprá-lo: trata-se de Ndule ndule: assim brincam as crianças africanas, do Rogério Andrade Barbosa.
No curso “Pedacinhos da África” eu trabalho com alguns jogos africanos e há tempos queria encontrar mais referências sobre isso, pois tinha pouca coisa: apenas 3 jogos de tabuleiro e 4 brincadeiras de pátio.
Foi por isso que o livro do Rogério me veio como um presentão: nele, duas crianças têm que fazer uma pesquisa sobre como brincam as crianças em outros países da África e recebem resposta de vários amigos (por email, por carta, webcam...).
O legal é que há uma narrativa em volta das brincadeiras (não se trata de informações soltas sobre elas) e cada uma é descrita em detalhes, possibilitando que realmente sejam brincadas pelas crianças leitoras.
Eu me apaixonei pelo livro. Se já era “fãzaça”do Rogério, agora sou mais ainda!
Quem quiser conhecer um pouco mais sobre essas brincadeiras e se divertir um pouco brincando, corra a uma livraria!
Até a próxima! :-)

P.S: Ainda não consigo inserir imagens nos posts... Sempre dá errado!
Queria colocar a foto da capa do livro para "atiçar" vocês, mas não deu. :-(


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Dias de vendaval

Para este fim de semana, um conto com todo jeito (e gostinho!) de aconchego.
Um beijo. Até.

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Dias de vendaval[i]
Clarice Reichstul

É madrugada, quase de manhã. Chega debaixo da porta fechada o barulho da cocheira, dos mugidos das vacas, dos cascos na pedra. Daqui a pouco as crianças se levantam animadas, pulando da cama para começar o dia. Invariavelmente ele começa com uma caneca de leite tirado direto da vaca. Alguns preparam a caneca com café e açúcar para receber o leite espumante. Outros vão com o leite puro mesmo.
Em volta das vacas, os bezerros esperam impacientes. As "crianças bezerro" se fartam de leite e já saem correndo terminado o café da manhã. O dia está só começando e tem muita coisa pra fazer: dar milho às galinhas, pescar, construir cidades de barro, fazer corrida de carrinho, subir na árvore, andar a cavalo, buscar verdura na horta. Férias na fazenda é tudo isso e muito mais. Tem mexerica na matinha em volta da casa, vamos lá buscar? Espera aí que agora a gente vai até a cachoeira, pode ser na volta? Hoje a Dirce vai assar um bolo pro lanche da tarde.
O dia passa num vendaval, quando vamos ver está todo mundo enlameado, reclamando de cansaço e pronto pra tomar um banho. No jantar, os bocejos se misturam à fome, e rapidinho os ânimos azedam. Hora de escovar os dentes, ir pra cama, ouvir uma história e dormir. Os sonhos na fazenda são cheios de aventuras maravilhosas -uma continuação do dia que passou ou uma preparação para o dia seguinte, qual dos dois? Não importa, porque amanhã começa tudo de novo.





[i] Publicado na Folhinha do dia 30/06/12 – coluna “Cafuné”

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Aventuras Literárias - Ilan Brenman

A Biblioteca Pública do Paraná está passando por uma série de transformações e desenvolvendo, cada vez mais, uma série de atividades bem interessantes.
Uma delas é a Aventuras Literárias, um gostoso bate-papo com autores infantojuvenis.
Na próxima segunda é a vez de uma boa conversa com o Ilan Brenman!!!!
Dia: 06/08/12
Local: BPP - Auditório Paulo Garfunkel
Horário: 15h

Levem suas crianças e também os livros do Ilan, para pegar autógrafo...

*** Só para lembrar: alguns livros dele que eu uso ou cito nos meus cursos atuais são: Até as princesas soltam pum; A cicatriz e O livro da com-fusão.

Vale a pena ir ao encontro! Eu pretendo ir e, na volta, ter boas histórias para postar aqui. ;-)