sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Folclore X escola?

            Há muito tempo se fala sobre a importância e a necessidade de se valorizar, na escola, a pluralidade cultural. Infelizmente, muitas instituições e muitos docentes não sabem como fazer isso e acabam desenvolvendo um trabalho pontual, que começa 5 dias antes da data a ser “comemorada” e termina no dia seguinte a ela.
            Dois exemplos clássicos: o folclore costuma ser trabalhado durante todo o mês de agosto, mas de forma sempre igual (ou muitíssimo parecida): as crianças leem as lendas do saci-pererê, da mula sem cabeça, do curupira e depois fazem um desenho ou um fantoche de cada um deles. Ou há a apresentação de uma peça de teatro sobre o “folclore brasileiro”.
            E no Dia da Consciência Negra (20/11) acontece a mesmíssima coisa: a escola passa uma semana falando sobre preconceito, racismo, valorização do negro e sua importância para a construção do Brasil e depois o assunto morre...
Isso faz com que grande parte dos alunos não goste dessas “comemorações”, não dê importância a elas. E, convenhamos, com razão!
Se os professores das outras áreas deixarem de lado a ideia – bastante difundida – de que apenas os professores de Arte e Língua Portuguesa devem desenvolver atividades nessas datas e perceberem que TODOS podem (e devem) trabalhar com cultura, tudo fica melhor e mais fácil.
Por que trabalhar com lendas apenas em agosto? E com contos africanos em novembro?
Para que fazer os alunos terem uma “overdose” desses temas em tempos tão específicos?
Nenhuma cultura é estanque ou totalmente formada; todas sofrem influências umas das outras. E se o Brasil é visto – no mundo todo – como país da miscigenação, nada mais natural do que falar sobre ela, mostrar as várias influências que nossa cultura sofreu (e sofre) dos povos que a compõem.
Se os alunos – de todas as séries, não apenas os pequenos – se acostumarem, por exemplo, a sessões de contação de histórias e saraus, pode-se optar por trabalhar com lendas do mundo todo (inclusive da África J), enriquecendo seu repertório. E o melhor: ao longo de todo o ano, não de apenas 2 meses.
Os professores devem aproveitar a chance de “fisgar” os alunos com atividades mais interessantes, devem atentar para o potencial que a literatura popular tem para atrair ouvintes e leitores!
Histórias conquistam crianças, jovens, adultos... São a melhor aposta para um trabalho significativo.
Para terminar, não posso deixar de falar sobre o dia 31/10, tão conhecido como Halloween. Desde 2003 ele é também – aqui no Brasil – o Dia do Saci-Pererê, numa tentativa (algo patética) de valorizar a cultura nacional.
Como falei um pouco antes, não há como deixar de lado a cultura estrangeira. Ela também nos pertence...
O importante é não valorizá-la demais e não deixar de lado o que é legitimamente nosso. Esta charge é uma ótima ilustração para o tema:  





        Um abraço e até a próxima.