quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Um conto de Natal

Oi, gente...
Fiquei um tempão sem postar nada por duas razões: falta de tempo e de diposição. Felizmente agora as coisas estão voltando ao eixo e cá estou!
O Natal já passou, mas assim mesmo quero lhes deixar um conto muito bonito de um escritor que eu adoro: o Bartolomeu Campos de Queirós. Infelizmente ele nos deixou há quase 1 ano, mas felizmente a obra dele está ao alcance das nossas mãos, dos nossos olhos e continua tocando nossos corações.
Desejo que a paz tão desejada no Natal nos acompanhe em  todos os dias do ano 2013. Feliz Ano Novo a todos!
Um beijo.

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O galo e o menino
(Bartolomeu Campos de Queirós)

Disseram-me que foi o Galo. Era meia-noite. Ele bateu as asas, levantou o pescoço. De sua garganta saiu uma melodia tão bonita que acordou até a noite. Seu canto deu uma volta ao mundo e despertou o sol, a lua, o mar, as estrelas e tudo o que habitava a Terra. E mesmo os anjos, que passeavam invisíveis pelos ares, tomaram de suas flautas e sopraram o "O Glória a Deus das Alturas". Três Reis vivendo em terras do outro lado do mundo, se encantaram com música assim tão doce, que cortava o vazio. Crianças, pastores, ovelhas, pescadores, lavadeiras, pássaros, todos olharam para a noite clara. Só podia ser um aviso do céu, pensavam e oravam. E lá no meio do firmamento, brilhava uma imensa estrela derramando sua luz sobre uma gruta. E dentro da gruta, um tesouro. Todos partiram, guiados pela beleza, para ver o que acontecia debaixo da luz da estrela. Cuidadosos, entraram devagarinho gruta adentro. De um lado da manjedoura, havia uma Mulher. A Mãe era mansa como o silêncio. Do outro lado, um Pai vigiava o Menino com um olhar doce como a paz. Um boi e um jumento, engasgados pela alegria, contemplavam o Filho e ruminavam encantamento. E o Menino, deitado entre palhas e outras brancuras, recebia as visitas - animais e humanos - como irmãos. Se houve choro, foi só de alegria. Todos ofereceram presentes ao Menino: mel, flor, leite, tâmara, figo, pano para protegê-Lo. Era tudo o que tinham naquele canto pobre do mundo. Os marinheiros trouxeram estrelas que haviam caído no mar. Os pastores ofertavam as ovelhas feitas de algodão. Os passarinhos aflitos piavam perguntas ao Menino. Só os Reis, montados em camelos, chegaram dias depois, trazendo, nas mãos, incenso, brilho e perfume.
O Galo - ah! o Galo - continuava vaidoso na porta da gruta. Havia anunciado a chegada de Deus na terra, vestido de Menino Jesus. O Galo sorria, sem penas, para todos. Seu coração estava cheio de milagre. Nada poderia interromper o mistério daquele Natal - cacarejava. E assim foi e assim é. Ninguém jamais poderá apagar dos ouvidos, dos olhos, dos corações, aquele definitivo presente de Natal. O Menino nos foi enviado em segredo para não nos assustar com sua fortuna. Não houve tapetes, orquestras, palácios, guerras. Naquela noite feliz, nasceu um Menino-Rei capaz de reinar para sempre. Em cada Natal, todos os meninos, de todas as partes do mundo, afinam os ouvidos. Menino não se espanta com mistério. O Galo volta a cantar e a amarrar o mundo com sua voz. É bom ficar atento para escutá-lo. E o resto - o resto da história - o coração reinventa.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Folclore X escola?

            Há muito tempo se fala sobre a importância e a necessidade de se valorizar, na escola, a pluralidade cultural. Infelizmente, muitas instituições e muitos docentes não sabem como fazer isso e acabam desenvolvendo um trabalho pontual, que começa 5 dias antes da data a ser “comemorada” e termina no dia seguinte a ela.
            Dois exemplos clássicos: o folclore costuma ser trabalhado durante todo o mês de agosto, mas de forma sempre igual (ou muitíssimo parecida): as crianças leem as lendas do saci-pererê, da mula sem cabeça, do curupira e depois fazem um desenho ou um fantoche de cada um deles. Ou há a apresentação de uma peça de teatro sobre o “folclore brasileiro”.
            E no Dia da Consciência Negra (20/11) acontece a mesmíssima coisa: a escola passa uma semana falando sobre preconceito, racismo, valorização do negro e sua importância para a construção do Brasil e depois o assunto morre...
Isso faz com que grande parte dos alunos não goste dessas “comemorações”, não dê importância a elas. E, convenhamos, com razão!
Se os professores das outras áreas deixarem de lado a ideia – bastante difundida – de que apenas os professores de Arte e Língua Portuguesa devem desenvolver atividades nessas datas e perceberem que TODOS podem (e devem) trabalhar com cultura, tudo fica melhor e mais fácil.
Por que trabalhar com lendas apenas em agosto? E com contos africanos em novembro?
Para que fazer os alunos terem uma “overdose” desses temas em tempos tão específicos?
Nenhuma cultura é estanque ou totalmente formada; todas sofrem influências umas das outras. E se o Brasil é visto – no mundo todo – como país da miscigenação, nada mais natural do que falar sobre ela, mostrar as várias influências que nossa cultura sofreu (e sofre) dos povos que a compõem.
Se os alunos – de todas as séries, não apenas os pequenos – se acostumarem, por exemplo, a sessões de contação de histórias e saraus, pode-se optar por trabalhar com lendas do mundo todo (inclusive da África J), enriquecendo seu repertório. E o melhor: ao longo de todo o ano, não de apenas 2 meses.
Os professores devem aproveitar a chance de “fisgar” os alunos com atividades mais interessantes, devem atentar para o potencial que a literatura popular tem para atrair ouvintes e leitores!
Histórias conquistam crianças, jovens, adultos... São a melhor aposta para um trabalho significativo.
Para terminar, não posso deixar de falar sobre o dia 31/10, tão conhecido como Halloween. Desde 2003 ele é também – aqui no Brasil – o Dia do Saci-Pererê, numa tentativa (algo patética) de valorizar a cultura nacional.
Como falei um pouco antes, não há como deixar de lado a cultura estrangeira. Ela também nos pertence...
O importante é não valorizá-la demais e não deixar de lado o que é legitimamente nosso. Esta charge é uma ótima ilustração para o tema:  





        Um abraço e até a próxima.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Ricardo Azevedo

      São tantos os autores e os livros de que gosto demais que fica difícil escolher um para comentar a cada semana.
      Há poucos dias, percebi que ainda não escrevi nada sobre o Ricardo Azevedo, apesar de ser sua fã.
      Já trabalhei com várias obras dele em meus cursos e tive a alegria de poder dividir com ele os resultados, pois lhe enviei pelos Correios os trabalhos feitos. E então a alegria aumentou, pois ele foi muito simpático ao me escrever para dizer que tinha gostado muito do resultado.
      Confesso que fiquei bastante orgulhosa quando ele disse que se sente feliz por ter contribuído para as aulas de uma professora criativa como eu... Receber elogio de um escritor do gabarito nele não é pra qualquer um, né?! :-)
      Anteontem ele – é, o Ricardo Azevedo! – me mandou por email o link para uma entrevista que deu, falando sobre as razões para se ler ficção. Segue aqui o link http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/razoes-ler-ficcao-709025.shtml e também o site dele, que vale muito a pena ser visitado: www.ricardoazevedo.com.br.
      Ali, além de se conhecer mais de perto os livros dele, tem-se acesso a suas pesquisas sobre cultura popular. Imperdível!
      E quem tiver ficado com vontade de ler a obra dele, corra a uma livraria ou – quem mora em Curitiba – à Biblioteca Pública do Paraná. Uma série de contos e poemas deliciosos esperam os leitores mais ávidos por aventuras e risadas.
      Contos de enganar a morte é uma ótima opção para quem ficar em dúvida sobre que livro escolher!

      Um beijo a todos e bom fim de semana.
      E um beijão especial para o Ricardo Azevedo, que já inspirou tantas aulas minhas e seguramente inspirará muitas mais! :-)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O cego e o lenhador

O cego e o lenhador
História da África Ocidental

                Era uma vez um homem cego que morava numa palhoça, com sua irmã, numa aldeia na orla da floresta.
Esse homem era muito inteligente. Apesar de seus olhos não enxergarem nada, ele parecia saber mais sobre o mundo do que as pessoas cujos olhos viam tudo. Costumava sentar-se á porta de sua palhoça e conversar com quem passava. Quando alguém tinha problemas, perguntavam-lhe o que fazer e ele sempre dava um bom conselho.
Quando alguém queria saber alguma coisa, ele dizia, e suas respostas eram sempre corretas.
As pessoas balançavam a cabeça, admiradas:
– Como é que você consegue saber tanta coisa, sem enxergar?
E o cego sorria, dizendo:
– É que eu enxergo com os ouvidos.
                Bem, um dia a irmã do cego se apaixonou. Ela se apaixonou por um caçador de outra aldeia. E logo o caçador se casou com a irmã do cego.
Depois da festa de casamento, o caçador foi morar na palhoça, com a esposa.
Mas o caçador não tinha paciência com o irmão da mulher, não tinha nenhuma paciência com o cego.
Para que serve um homem cego? – ele dizia.
E a mulher respondia:
– Ora, marido, ele sabe mais coisas do mundo do que as pessoas que enxergam.
O caçador ria:
– Ha, ha, ha, o que pode saber um cego, que vive na escuridão?
                Todos os dias, o caçador ia para a floresta, com seus alçapões, lanças e flechas. E todas as tardes, quando o caçador voltava à aldeia, o cego dizia:
 – Por favor, amanhã deixe-me ir com você caçar na floresta.
Mas o caçador balançava a cabeça:
– Para que serve um homem cego?
Dias, semanas, meses se passaram, e todas as tardes o homem cego pedia: – Por favor, amanhã deixe-me caçar também.
E todas as tardes o caçador dizia que não.
                Uma tarde, porém, o caçador chegou de bom humor. Tinha trazido para casa uma bela caça, uma gazela bem gorda. Sua mulher temperou e assou a carne e, quando eles acabaram de comer, o caçador disse ao homem cego:
 – Pois bem, amanhã você vai caçar comigo.
                Assim, na manhã seguinte, os dois foram juntos para a floresta, o caçador carregando seus alçapões, lanças e flechas e conduzindo o cego pela mão, por entre as árvores. Andaram horas e horas.
Então, de repente, o cego parou e puxou a mão do caçador:
 – Psss, um leão!
                O caçador olhou ao redor e não viu nada.
E o cego disse:
– É um leão, sim, mas está tudo bem. Ele não está faminto e está dormindo profundamente. Não vai nos fazer mal.
                Continuaram seu caminho e, de fato, encontraram um leão dormindo a sono solto, debaixo de uma árvore.
Depois que passaram pelo animal, o caçador perguntou:
 – Como você sabia do leão?
– É que eu enxergo com os ouvidos.
Andaram por mais quatro horas e então o cego puxou de novo o braço do caçador:
 – Pss, um elefante!
O caçador olhou ao redor e não viu nada.
  É um elefante, sim, mas, tudo bem. Ele está dentro de uma poça d’água e não vai nos fazer mal.
                Continuaram seu caminho e, de fato, encontraram um elefante imenso, chapinhando numa poça d’água, esquichando lama nas próprias costas.
Depois que passaram pelo animal, o caçador perguntou:
 – Como você sabia do elefante?
É que eu enxergo com os ouvidos.
                Continuaram seu caminho, se aprofundando cada vez mais na floresta, até chegarem a uma clareira. O caçador disse:
– Vamos deixar nossos alçapões aqui. Ele armou um alçapão e ensinou o cego a armar o outro. Quando os dois alçapões estavam armados, o caçador disse:
                – Amanhã vamos voltar para ver o que pegamos.
E os dois voltaram juntos para a aldeia.
Na manhã seguinte, acordaram cedo. Mais uma vez foram andando pela floresta. O caçador se ofereceu para segurar a mão do cego, mas ele disse:
– Não, agora já conheço o caminho.
 Dessa vez o homem cego foi andando na frente. Não tropeçou em nenhuma raiz nem toco de árvore. Não errou o caminho nem uma vez.
 Andaram, andaram até chegar em uma clareira onde estavam armados os alçapões.
De longe, o caçador viu que havia um pássaro preso em cada alçapão. De longe viu que o pássaro preso no alçapão do homem cego era lindo, com penas verdes, vermelhas e douradas.
– Sente-se ali, – disse ele – cada um de nós apanhou um pássaro. Vou tirá-los dos alçapões.
O cego sentou-se e o caçador foi até os alçapões, pensando: – Um homem que não enxerga nunca vai perceber a diferença.
E o que ele fez? Deu ao cego o pequeno pássaro cinzento e ficou com o lindo pássaro de penas verdes, vermelhas e douradas.
O cego pegou o pássaro cinzento nas mãos, levantou-se e os dois rumaram de volta para casa.
Andaram, andaram, e a certa altura o caçador disse:
– Já que você é tão inteligente e enxerga com os ouvidos, responda uma coisa: por que há tanta desavença, ódio e guerra neste mundo?
O cego respondeu:
– Porque este mundo está cheio de gente como você, que pega o que não é seu.
O caçador se encheu de vergonha. Pegou o pássaro cinzento da mão do cego e deu-lhe o pássaro lindo, de penas verdes, vermelhas e douradas.
– Desculpe – ele disse.
Os dois continuaram andando e a certa altura, o caçador disse:
– Já que você é tão inteligente e enxerga com os ouvidos, responda uma coisa: por que há tanto amor, bondade e conciliação neste mundo?
O cego respondeu:
– Porque este mundo está cheio de gente como você, que aprende com seus erros.
Os dois continuaram andando, até chegarem à aldeia.
 E, a partir daquele dia, quando alguém perguntava ao cego:
– Como é que consegue saber tanta coisa, sem enxergar?, era o caçador que respondia:
– É que ele enxerga com os ouvidos ... e ouve com o coração.


Fonte: LUPTON. H. Histórias de sabedoria e encantamento. São Paulo: Martins Fontes, 2003

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A literatura nos leva...

            Em poucas palavras, uma bela homenagem à leitura, à literatura...
            Boa semana e até! =D

           
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Castigo
Leo Cunha

Podem me prender no quarto,
eu saio pela janela.
Podem trancar a janela,
eu fujo pelo telefone.
Podem cortar o telefone,
eu pulo dentro de um livro.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Amor pelos livros

Oi, gente...
Infelizmente, hoje estou sem tempo para escrever sobre um livro muito legal que descobri há poucos dias...
Como não queria ficar sem postar nada, me lembrei deste belo conto da Heloísa Seixas, que recebi com o material do curso Mediadores de leitura para o ensino fundamental (que iniciei na UFPR na semana passada).
Desfrutem-no!
Um beijo e até a semana que vem.

 

Irmãos
Heloisa Seixas

Imaginem um menino. Um menino qualquer, nem gordo nem magro, nem alto nem baixo, nem bonito nem feio, mas de uma inteligência aguda e de olhos bem grandes, abertos para o mundo, todos os mundos. Ele era assim. Filho único, era capaz de ficar horas a fio trancado no quarto lendo, pois tinha nos livros seus grandes companheiros. Não que fosse um menino solitário, isto não. Tinha amigos, jogava bola, namorava. Mas ler era um prazer especial, que desfrutava com avidez.
Começara com Alice, mas logo enveredara por outros mundos, igualmente fantásticos, para os quais se transportava. Tarzan, a feiticeira Ela, Sherlock Holmes, tantos, tantos. Em seu quarto, armara uma pequena estante, que em pouco tempo já estava superlotada de livros. Romances, poesia, biografias, dicionários, tudo. Tratava os livros com reverência, sem que nunca ninguém lhe ensinasse a agir assim.
Com o passar dos anos, sua vida foi mudando. Cresceu. Mudou de casa, de cidade, de país. Foi e voltou, casou e descasou, ganhou e perdeu, rolou e rolou pela vida como quase todos nós e, com essas transformações, sua biblioteca de menino foi desaparecendo. Mesmo os livros mais antigos, os primeiros, aqueles que mais amava e dos quais se recordava de forma aguda, se perderam.
Novamente, os anos passaram.
Até que um dia, muito tempo depois, estava ele num sebo, examinando aquelas prateleiras coloridas que transpiram vida - como sempre acontece com as prateleiras de um sebo -, quando seus olhos se prenderam a uma lombada. Sentiu uma onda de prazer, o reconhecimento imediato. Alcançou o livro e puxou. Viu-se com um pedaço da própria infância nas mãos. Era um exemplar igual - mesma capa, mesma editora, mesma edição, tudo - ao que tivera em criança. Folheou as primeiras páginas imaginando encontrar seu próprio nome escrito a caneta-tinteiro (pois sempre escrevia o nome nos livros), mas o que encontrou foi outro nome. De outro menino, quem sabe igual a ele, apaixonado por livros. Porque os meninos apaixonados por livros tratam bem seus volumes e aquele estava muito bem conservado.
Daquele dia em diante, não parou mais. Passou a andar pelos sebos buscando seus livros de infância. Tinha a secreta esperança de um dia abrir um deles e encontrar o próprio nome, mas isso nunca aconteceu. Não se importou. Encontrava outros nomes e sentia-se irmanado àqueles que um dia foram meninos como ele e que, como ele, amaram os livros desde cedo. E foi assim que esse menino-homem, sendo filho único, ganhou dezenas de irmãos.


SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro: contos mínimos sobre ler, escrever e contar. Rio de Janeiro: Galera Record, 2009.


domingo, 23 de setembro de 2012

Contos acumulativos

Semana passada terminamos mais uma etapa de cursos lá na escola. A próxima, só em meados de outubro...
Para terminar meu curso “Brincadeiras com leitura, escrita e literatura infantil”, lemos e – por que não? – nos divertimos com contos acumulativos.
Gosto muito deste tipo de conto. Eles são “gostosos”, divertidos e brincam com nossa memória recente...
Antes de lermos alguns deles, fizemos a brincadeira “Fui ao mercado e comprei...”, na qual cada participante deve repetir a sentença dita pelos colegas anteriores e acrescentar um pedaço. Neste caso, cada menina devia acrescentar um produto comprado no mercado.
Foi uma diversão... Houve (vários!) momentos em que a pessoa que estava na vez esquecia o que um dos colegas tinha dito ou invertia a ordem dos fatores,  o que não pode acontecer.
Conseguimos fazer 3 rodadas (numa turma de 12 pessoas!). Mais do que isso não deu certo, pois nossa memória não deu conta de tantas compras! =D
Deixo para vocês um conto da Rosane Pamplona e a sugestão de que ouçam a música “Pra começar”, da Rosy Greca. Ela faz parte do CD Momento Espírita para crianças, volume 2.
Boa leitura e até a próxima!

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O céu está caindo!
Rosane Pamplona
           
E
ra uma vez uma galinha que andava ciscando embaixo de uma jabuticabeira, quando uma jabuticabinha seca caiu bem em cima da sua cabeça. A galinha assustou-se e pensou: “Meu Deus! O céu está caindo!”. E saiu correndo, espavorida.
No caminho, encontrou-se com o pato e pôs-se a cacarejar:
– Corra, pato, vamos nos proteger que o céu está caindo!
– Quem lhe disse isso?
– Um pedacinho do céu caiu bem no meu cocuruto.
O pato, amedrontado, seguiu a galinha.
Logo à frente, estava o pintinho.
– Venha conosco, pintinho – grasnou o pato –, pois o céu está caindo!
– Quem lhe disse isso?
– Quem me disse foi a galinha, que sentiu um pedacinho do céu cair bem no seu cocuruto.
O pintinho achou melhor ir com eles.
Correram mais um pouco e esbarraram no peru.
– Vamos fugir, peru, que o céu está caindo! – piou o pintinho.
– Quem lhe disse isso?
– Quem me disse foi o pato, que ouviu da galinha, que sentiu um pedacinho do céu cair bem no seu cocuruto.
O peru, alarmado, foi logo se juntando à turma.
Iam naquele alarido, cacarejando, grasnando, piando e grugulejando, quando encontraram a raposa.
– Esperem! Aonde vão com tanta pressa?
– Estamos procurando um abrigo, pois o céu está caindo! – foi a vez de o peru grugulejar.
– Quem lhe disse isso?
– Quem me disse foi o pintinho, que ouviu do pato, que ouviu da galinha, que sentiu um pedacinho do céu cair bem no seu cocuruto.
– Um pedaço do céu? – regougou a esperta raposa. Isso é mesmo perigoso! Mas eu sei de um lugar onde poderemos ficar todos protegidos. Venham comigo, sigam-me!
E as tolas aves seguiram a raposa para a sua toca. O céu não caiu; quem caiu foi a raposa, em cima delas, devorando-as uma por uma.


PAMPLONA, R. Era uma vez... três! Histórias de enrolar... São Paulo: Moderna, 2005


sábado, 8 de setembro de 2012

Sentimentos...

            No curso “Literatura infantil e bullying”, trabalho a importância da construção e da valorização da identidade da criança, assim como de sua história familiar.
            Entre os livros que lemos, discutimos e usamos como apoio, está O homem que amava caixas, de Stephen Michael King. Ele é um dos meus preferidos, pois por trás de sua singeleza há uma profundidade muito bonita.
            Sua história serve para falar sobre a dificuldade – e a facilidade – de demonstrar sentimentos, sobre as diferentes maneiras de demonstrá-los...
            Isso sem contar toda a simbologia da caixa, “espaço mágico” onde guardamos muito mais do que apenas objetos.
            Mais não digo, pois não quero estragar a leitura nem tudo que ela pode trazer de bom, belo e revelador.

                                                                                                                    
O homem que amava caixas
Stephen Michael King

Era uma vez um homem
O homem tinha um filho
O filho amava o homem
e o homem amava caixas.

Caixas grandes
caixas redondas
caixas pequenas
caixas altas
todos os tipos de caixas!

O homem tinha dificuldade
em dizer ao filho
que o amava;
então, em suas caixas,
ele começou a construir coisas
para seu filho.

Ele era perito
em fazer castelos
e seus aviões sempre voavam...
a não ser, claro,
que chovesse.

As caixas apareciam de repente,
quando os amigos chegavam,
e, nessas caixas,
eles brincavam...
e brincavam...
e brincavam.

A maioria das pessoas achava que
o homem era muito estranho.

Os velhos
apontavam para ele
As velhas olhavam
Zangadas para ele.

Seus vizinhos riam dele
Pelas costas.

Mas nada disso preocupava o homem,
porque ele sabia que tinham encontrado
uma maneira especial de compartilharem...
o amor de um pelo outro. 


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Baobá

Para vocês, um conto de que gosto muito. Eu o li, semana passada, com minhas alunas do curso Pedacinhos da África.
E viva a leitura!
Abraço e até mais.


O coração do baobá

            No coração da África, havia uma extensa planície. E no centro dessa planície, erguia-se uma alta e frondosa árvore. Era o baobá.
            Um dia, embaixo do sol escaldante do meio-dia africano, corria pela planície um coelhinho, que, exausto, suado, quando viu o baobá, correu a abrigar-se à sua sombra. E ali, protegido pela árvore, ele se sentiu tão bem, tão reconfortado, que olhando para cima não pôde deixar de dizer:
            - Que sombra acolhedora e amiga você tem, baobá! Muito obrigado!
 O baobá, que não costumava receber palavras de agradecimento, ficou tão reconhecido, que fez balançar os seus galhos e tremular suas folhinhas, como numa dança de alegria.
O coelho, percebendo a reação da árvore, quis aproveitar-se um pouquinho da situação e disse assim:
- É, realmente sua sombra é muito boa.... Mas e esses seus frutos que eu estou vendo lá em cima? Não me parecem assim grande coisa...
O baobá, picado no seu amor próprio, caiu na armadilha. E soltou, lá de cima de seus galhos, um belo e redondo fruto, que rolou pelo capim, perto do coelhinho. Este, mais do que depressa, farejou o fruto e o devorou, pois ele era delicioso. Saciado, voltou para a sombra da árvore, agradecendo:
- Bem, sua sombra é muito boa, seu fruto também é da melhor qualidade. Mas.... e o seu coração, baobá? Será ele doce como seu fruto ou duro e seco como sua casca?
O baobá, ouvindo aquilo, deixou-se invadir por uma emoção que há muito tempo não sentia. Mostrar o seu coração? Ah... Como ele queria.... Mas era tão difícil.... Por outro lado, o coelhinho havia se mostrado tão terno, tão amigo.... E assim, hesitante, hesitando, o baobá foi lentamente abrindo o seu tronco. Foi abrindo, abrindo, até formar uma fenda, por onde o coelho pôde ver, extasiado, um tesouro de moedas, pedras e jóias preciosas, um tesouro magnífico, que o baobá ofereceu a seu amigo. Maravilhado, o coelho pegou algumas jóias e saiu agradecendo:
- Muito obrigado, bela árvore! Jamais vou te esquecer!
E chegando à sua casa, encontrou sua esposa, a coelha, a quem presenteou com as jóias. A coelha, mais do que depressa, enfeitou-se toda com anéis, colares e braceletes e saiu para se exibir para suas amigas. A primeira que ela encontrou foi a hiena, que, assaltada pela inveja, quis logo saber onde ela havia conseguido jóias tão faiscantes. A coelha lhe disse que nada sabia, mas que fosse falar com seu marido. A hiena não perdeu tempo: foi ter com o coelho, que lhe contou o que havia acontecido.
No dia seguinte, exatamente ao meio-dia, corria a hiena pela planície e repetia passo a passo tudo o que o coelho lhe havia contado. Foi deitar-se à sombra do baobá, elogiou-lhe a sombra, pediu-lhe um fruto, elogiou-lhe o fruto e finalmente pediu para ver-lhe o coração.
O baobá, a quem o coelhinho na véspera havia tornado mais confiante e mais generoso, dessa vez nem hesitou. Foi abrindo o seu tronco, foi abrindo, bem devagarinho, saboreando cada minutinho de entrega. Mas a hiena, impaciente, pulou com suas garras no tronco do baobá, gritando:
- Abra logo esse coração, eu não agüento esperar! Ande! Eu quero todo esse tesouro para mim, eu quero tudo, entendeu?
            O baobá, apavorado, fechou imediatamente o seu tronco, deixando a hiena de fora a uivar desesperada, sem conseguir pegar nenhuma jóia. E por mais que ela arranhasse a árvore, ela nada conseguiu.
            A partir desse dia é que a hiena ganhou o costume de vasculhar as entranhas dos animais mortos, pensando encontrar ali algum tesouro. Mal sabe ela que esse tesouro só existe enquanto o coração é vivo e bate forte.
            Quanto ao baobá, nunca mais ele se abriu. A ferida que ele sofreu é invisível, mas dificilmente curável. O coração dos homens se parece com o do baobá. Por que ele se abre tão medrosamente quando ele se abre?  Por que às vezes ele nem se abre?  De que hiena será que ele se recorda?


Fonte: SISTO, C. Mãe África. São Paulo: Paulus, 2005

domingo, 26 de agosto de 2012

A delícia de se dividir uma boa leitura...

Tão gostoso dividir uma leitura interessante com alguém, né?
Semana passada li dois pequenos trechos do livro Meu avô era uma cerejeira (cuja leitura indico a todos!!!) para uma das minhas turmas lá da escola. E, pensando nessa “divisão da gostosura de ler”, deixo para vocês um poema.
Desfrutem-no e até a próxima!


Livros
(Lalau)

Capivara convidou o jacaré
Para ler Robinson Crusoé.

Sabiá chamou o porco-espinho
Para ler Reinações de Narizinho.

Peixe-boi visitou o aruanã
Para ler Peter Pan.

Tatu-bola procurou  a cascavel
Para ler Rapunzel.

Para ganhar um amigo,
Abra um livro e diga:
Quer ler comigo?