domingo, 22 de julho de 2012

Árvore dos desejos

Oi, pessoal...
Pensando no material que colocaria no blog esta semana, lembrei um conto de que gosto muito: “A árvore dos desejos”.
Não sei se vocês o conhecem, mas certamente já devem ter ouvido frases como “Cuidado com o que você deseja, pois seus desejos podem se tornar realidade”. Ouviram? (Ou leram?)
Considerando que muitas vezes nossos desejos surgem em momentos de emoções intensas – sejam boas ou ruins –, é fácil entender que eles nem sempre são uma real “exposição” daquilo que desejamos de fato.
No ano retrasado, li com uma turma de 7ª. série o conto que citei no início deste post. Depois da leitura, dos comentários e da famigerada “interpretação de texto”, pedi que cada aluno escrevesse sobre o que faria se, assim como o protagonista do conto, também encontrasse a “árvore dos desejos”.  
Foi interessante perceber o quanto essa escrita revelou sobre como o modelo social “mulher bonita e gostosa” e “homem rico e poderoso” permeia o imaginário dessas crianças.
Vi isso ao ler alguns textos que mostravam, por exemplo, o desejo de meninas que queriam comer bastante chocolate e nunca engordar, ou aquelas que queriam emagrecer bastante... Quanto aos meninos, muitos gostariam de ser “o homem mais rico do mundo”, ter “um monte de mulher”...
Impressionante que eles – mesmo sendo tão jovens – já tenham assimilado de maneira tão violenta os estereótipos sociais que distinguem os gêneros. Como será que eles vão se comportar quando adultos??!
O conto da Rosane Pamplona segue abaixo. Boa leitura, boas reflexões e bom trabalho com as crianças!

A árvore dos desejos
Rosane Pamplona

Era uma vez um homem que se queixava de levar uma vida muito difícil. Achava-se tão injustiçado pelo destino que ele mesmo se apelidara de João-Sem-Sorte. Tudo lhe saíra errado: não conseguia fazer bons negócios, nenhuma moça se interessava por ele, nada lhe trazia alegria.
Um dia, cansado de tanta falta de sorte, desiludido com sua vida, resolveu se matar. Com uma corda na mão, dirigiu-se a uma velha árvore que havia nos arredores da cidade, disposto a enforcar-se.
Quando, porém, jogou o laço num dos galhos, vindo não se sabe bem de onde, apareceu um velho muito velho, de barbas longas, quase transparentes, de tão brancas. Com uma voz roufenha, que parecia vir de muito longe, o velho perguntou:
– Você está querendo se matar, meu filho? Será que você tem mesmo motivos para isso? Venha, sente-se aqui comigo à sombra da árvore e me conte o que aconteceu.  
João-Sem-Sorte hesitou, mas obedeceu, impressionado por aquele ser misterioso e imponente. Sentou-se ao lado dele e contou-lhe como sua vida era difícil, como sofrera injustiças, como a sorte nunca estava a seu lado. Quando acabou de ouvir aquelas lamúrias, o velho revelou-lhe:
– Sabe meu filho, eu sou o Velho Destino. Sou tão velho quanto à própria vida e não gosto que me chamem de injusto. Por isso vou lhe dar uma chance: não muito longe daqui, existe uma árvore parecida com esta, mas muito mais alta e frondosa. Saiba que essa é a Árvore dos Desejos. Debaixo de sua copa, tudo o que você desejar se realizará, basta dizê-lo em voz alta. Para chegar até lá, você deve caminhar durante sete dias sem parar, seguindo sempre a direção do vento. Agora, seja feliz e aproveite a oportunidade do Destino!
E, erguendo os braços, a estranha criatura desapareceu. Na mesma hora, começou a soprar um forte vento.
João hesitou, mas tudo o impressionou de tal maneira que ele decidiu aceitar as instruções do velho. “Afinal”, pensou ele, “o que tenho a perder? Sempre posso desistir e voltar no meio do caminho. Eu ia me matar, mesmo...” Assim resolvendo, pôs-se a andar seguindo o vento. E andou e andou o dia inteiro. Naquela noite, ele dormiu um sono pesado e tranquilo, talvez porque estivesse realmente cansado.
No dia seguinte, retomou a caminhada e a cada passo sentia-se mais animado e cheio de esperanças. E assim caminhou, perseverante, por sete dias. No fim do sétimo dia – ó maravilha! – ele se deparou com a árvore alta e frondosa descrita pelo velho Destino. Sem perder tempo, João aproximou-se e disse em voz alta:
– Eu desejo comida e bebida à vontade!
E, porque ele desejasse, seu desejo foi atendido: uma mesma coberta de iguarias apareceu à sua frente. Carnes cheirosas, biscoitos dourados, bebidas de todos os sabores, de tudo João experimentava, dando gritos de alegria. Depois, saciado, ele pediu:
– Agora, uma cama macia, com almofadas de pena!
E, porque ele desejasse, seu desejo foi atendido.
No dia seguinte, João acordou feliz e desejou uma refeição leve; e depois desejou um bom banho, e depois uma linda e carinhosa mulher e depois uma casa confortável para os dois e belas roupas e joias, e tudo o mais que lhe vinha à mente.
E, porque ele desejasse, tudo lhe era atendido.
Assim ele viveu feliz durante vários dias, bastando desejar para ser atendido.
Uma bela manhã, porém, João acordou perturbado. Sua mulher já se levantara e preparava com todo o cuidado o café da manhã que costumava levar ao marido. Sozinho em seu quarto, João se pôs a cismar. “Mas que história incrível a que aconteceu comigo... Realmente, há algo muito estranho aqui... Quem poderia acreditar que eu, há poucos dias, era o homem mais infeliz do mundo? Será que isso não é uma armadilha? Aquele velho era tão estranho... Pensando bem, mais me pareceu um feiticeiro maligno... Acho que fui um tolo acreditando nele!”
Nisso, a sua bela mulher apareceu na porta do quarto com a bandeja na mão. Atormentado, João olhou para ela e disse:
– Só me falta agora essa mulher ser um demônio disfarçado e querer me devorar!
E, porque ele desejasse...


PAMPLONA, R. Outras novas histórias antigas. São Paulo: Brinque Book, 1999

2 comentários:

  1. Anônimo5/8/12 22:04

    Gostei muito do texto, não o conhecia. Gostei também do seu relato, bem interessante o trabalho que você fez. Vou replicar! Obrigado! Vinicius

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    1. Oi, Vini. Que bom que você gostou do conto e da atividade que fiz.
      Eu também gosto muito dele, pois é profundo, dá para basear muita discussão e troca de idéias.
      Continue me visitando sempre!
      Beijo.

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